sábado, 18 de outubro de 2008

o ensaio descritivo e explicativo sobre nossa relação

*bruno bandido



eu poderia te destilar frases. charles bukowski já disse, em uma célebre entrevista para a revista rolling stone, que o seu maior problema quando começou a escrever poesias foi que as mulheres esperavam que ele fosse poeta o tempo inteiro. e isso que as poesias dele não tinham nada desse romantismo rasgado que a maioria das mulheres parece gostar. enfim, eu poderia excluir do meu vocabulário frases como “o banheiro ta sujo pra caralho” ou “cala a boca, quero ver o futebol”. eu poderia, juro que poderia.
mas tenho a nítida impressão que se eu completasse alguns anos dessa maneira, receberia em minha caixa postal um envelope, de algum sindicato masculino, me intimando para ter uma conversinha. obviamente causaria um certo tipo de problemas. e outra, eu troco a arte por qualquer mulher, mas jamais trocaria mulher nenhuma por qualquer espécie de arte. faz parte de uma ética do artista que eu mesmo criei. e digo mais, mudando um pouco a ótica de bukowski, acredito que aquele que é poeta o tempo inteiro tem a obrigação de estabelecer esta relação de trocas.
por isso eu não destilo minhas frases pra tu ouvires e ficares sempre numa boa. além do mais, os homens falam coisas como “cala a boca, to vendo o jogo” ou “me traz uma cerveja” porque isso nada mais é que um reflexo masculino da convivência com o sexo oposto. claro que a fuga de tal reflexo é de fundamental importância. mas ela também falha, o que não deixa de ser poesia.


p.s: só como fator de observação e complemento - a poesia não existe no sexo. só antes e depois. nem o olhar no olho durante o ato nem o arrepio do beijo no ouvido nem o gozo em conjunto. o sexo è de maior instinto de maior importância de maior necessidade.
a poesia é o que não é necessário, porém que leva ao subjetivo individual ou coletivo. nelson rodrigues dizia que “o frango é a poesia do futebol”. ou seja, o erro, o que te faz rir, o que te deixa indignado, a falha. levando em consideração e estendendo à questão aqui discutida: a poesia do sexo pós-contemporâneo é a ejaculação precoce.




*bruno bandido escreve este texto levemente embriagado.

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