segunda-feira, 14 de julho de 2008

Análise:

A poesia feita pela contraculturajaguarense e seus aspectos comparativos

*Torquato Rocha



Os integrantes mais presentes da contraculturajaguarense, os que escrevem no blogue, possuem veias poéticas pouco conhecidas (talvez a mais conhecida seja a de Fernando Scarano), porém curiosamente interessantes e, o melhor de tudo, diferentes umas das outras.

Felipe Rosales - conhecido no blogue por Contra Cultura Jaguarense, pelos amigos de porre por Felipe Gentileza e pelo integrante bruno bandido por Maestro - é o que menos expõem sua poesia, e talvez o que menos produza com a intenção de mostrá-la. Mas, justamente, por tal fato é que sempre quando lida, em algum lugar, ela vai ser boa. O velho esquema da Quantidade não é Qualidade. O cara é dono de uma criatividade minimalista em suas palavras, com bons sopros criativos, diga-se de passagem. Aliás, se tem alguma palavra para característica de sua "arte" é criatividade. Até pelo fato de a poesia estar menos constante em suas palavras, e por isso, ele é o poeta mais moderno do grupo. Felipe tem a poesia em suas idéias, seja para intervenções artísticas pós-contemporâneas, ou nos arranjos musicas que produz para suas bandas. Ele é o tipo de "gênio por trás da engrenagem", poucas de suas idéias são descartadas quando ele as diz. Usa para os trabalhos de contracultura a temática do choque direto, leva as pessoas a pensarem. Através de seus trabalhos mais populares, como guitarrista da banda Blackout Sul, usa de bom gosto infalível e uma intensidade respeitosa, que não se sobressai a ninguém.

Luis Fernando Scarano - intitulado de " o Tira Dentes jaguarense" por bruno bandido - tem em sua poesia, em comparação aos três que cito nessa análise, a rebeldia mais direta e menos chocante, combinação que poucos conseguem construir em torno da história. Mais presentes nas canções que compõe, suas palavras são fortes e expostas em imagens muitas vezes de certo teor abstrato que provoca várias interpretações. E isso é bom. Seja em suas famosas e viciosas baladas, ou em seu blues rockenrolleado, Scarano sabe muito bem o que está fazendo, mesmo quando pensa que não sabe. Com uma forte influência do Rock'n Roll, ele sabe dar o tapa na cara, e responder muito bem os tapas que leva. O realismo presente em seu trabalho é bastante forte quando descreve sentimentos ou situações, realismo esse que muitas vezes se confunde com pessimismo. Que pessimismo que nada, é pura capacidade de descrever através de versos ou referências (ele usa muitas) suas visões e propostas (como a intrigante letra de Aventura Insólitas de uma Realidade Fugitiva). Noto em suas canções um mastigar da utopia, um convite a que todos acreditem que tudo pode ser mudado, como na ótima música Confusão. Tomara que o convite seja aceito. Tomara que sua banda Divergência seja cada vez mais escutada.

bruno bandido - personagem inventado, um pouco alter-ego um pouco caricatura um pouco vontade, de Bruno Goularte - é mais camaleônico em sua poesia. Ele aborda seus temas de maneira mais exagerada e menos realista que a de Scarano. Sua poesia é vasta, porém pouco conhecida, tem suas coisas boas e suas coisas ruins, tem fases, pois ele está mudando o modo de ver a vida quase que constantemente, o que pode ser ruim (pela incoerência e contradição) ou bom. Seu primeiro tema explorado que conheci foi à loucura, com o primeiro show projeto Ornitopandas, do qual ainda participam Maestro (felipe) e thomás da selva e silva. Nele, o que se mostra é uma poesia, muitas vezes non-sense e dadaísta (escola da qual sempre foi influenciado), mas mais constante nesse período é o surrealismo em que trata suas histórias. É uma fase de histórias mesmo, vezes entendendo-se fácil, vezes não. Na banda Tribal Trio com a música épica Nada foi feito pelo sol, fase em que bruno começava a conhecer fragmentação pós-contemporânea, foi uma das únicas vezes em que ele fez crítica política concreta, montando uma letra bastante recortada, que contava uma história através de imagens futuristas e versos em primeira pessoa (essa é a época em que bandido e goularte mais se confundem). Já na segunda apresentação dos Ornitopandas, bruno bandido entrou em seu tema principal - o amor - só que neste momento ele via o lado ruim de tal sentimento, como o tédio e a rejeição. Já em suas últimas letras ele tenta descrever o amor, ou os casos da geração em que vive. Sempre com tons exagerados, e explorando o lado interessante do clichê.



*Torquato Rocha é filósofo e pedreiro. Entre outras análises suas semelhantes ao tema, que em breve serão postadas no blogue, estão: "A poesia do marketing e do choque de bruno bandido e Maestro (felipe)" e "As barreiras do realismo, do pessimismo e da aceitação da utopia nas letras de Luis Fernando Scarano".

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